Por que chamamos programas de apoio a organizações de “programas de aceleração”?
Estes dias, vi o anúncio de um destes programas de aceleração de organizações. E fiquei muito aflita, porque o programa é bem bacana e tem uma intenção linda, que é apoiar essas organizações nos seus processos de nascedouro e crescimento.
Mas fiquei pensando em por que chamamos estes programas de programas de aceleração.
Não me estranha que o mercado faça isso.
Mas me estranha que façamos isso no mundo social, no terceiro setor.
Será que é apenas porque não paramos para pensar em uma expressão melhor? Ou porque adotamos esses nomes do mercado sem encontrar um termo que se aplique melhor à realidade do campo social?
O Desacelera é uma desaceleradora de pessoas e organizações, porque trabalhamos com reenvolvimento organizacional e culturas de cuidado. E este nome (que é na verdade uma grande provocação) surgiu, porque fico muito incomodada quando vejo que no mundo social “importamos” estruturas (nomes e lógicas) do mercado, porque sinto que passamos a reproduzir dinâmicas que não serão transformadoras da realidade.
O mundo acelerado é esse que está aí.
Nós queremos outro.
E mais: porque pensamos que as organizações precisam crescer? Por que entendemos que desenvolver é crescer? Por que pensamos que isso precisa ser um processo de aceleração? Por que o desenvolvimento de uma pessoa ou organização não pode se dar de forma viva e atenta ao próprio tempo? Não sou ingênua. Entendo os desafios dos ciclos de apoio. Mas eles não podem estar orientados pela lógica da aceleração.
Que tal se chamássemos estes programas de potencialização? Apoio? Suporte? Ancoragem? Amparo? Que tal se inventássemos um outro nome?
Não sei qual o melhor termo, mas quando vejo “aceleração” sendo usado em um sentido positivo – e como sinônimo de crescimento e desenvolvimento – isso me dá uma certa angústia.
E sabe por que? Porque parte da crença que temos na aceleração é gestada no seio do mercado (sobretudo no mercado das tecnologias, quando somos levados a associar um “pacote de valores” a coisas boas). Quem vai ter coragem de dizer que é contra o progresso? Mas porque o progresso é apenas este que está aí? Porque entendemos como progresso apenas o que se entende hoje como progresso?
Na minha pesquisa de Doutorado, eu mapeei que existe toda uma aura positiva em torno de uma série de valores que as empresas de tecnologia usam para falar de aparatos digitais. Entre estes valores, está a velocidade. Então, claro que apenas isso não explica, mas parte da crença que temos de que a velocidade e a aceleração são APENAS positivas está relacionada com nossa crença nas tecnologias e em um determinado tipo de desenvolvimento e de progresso.
Acontece que o caminho da aceleração é o caminho do esgotamento.
Dos recursos e das pessoas.
Então, porque não começamos a reflorestar o pensamento?
Porque não começamos a criar novas expressões que contenham novas lógicas?
Chatice? Capricho? Pode ser.
Mas eu sou dessas, quando a questão é uma noção, um sentido e um significado e toda bagagem que um “simples termo” pode carregar.
Porque as palavras contém universos.