Desacelerad@s: Clarissa Menezes Homsi

SLOW LIFE: depoimento cedido por Clarissa Menezes Homsi, do blog “Depois que virei mãe

Em janeiro nos mudamos pra Piracaia. Uma das razões é estar num lugar com menos pessoas, mais perto da natureza, longe da energia das cidades que dão a sensação de que o tempo voa e as coisas boas da vida se perdem nos afazeres sem fim, no trânsito, nas filas, nos inúmeros compromissos, na agitação do dia a dia.

Demoramos um mês para desencaixotar. Minha ansiedade me pressionando, como se precisasse tirar tudo das caixas, guardar nos devidos lugares, deixar arrumado, organizado para, então (e finalmente), a vida começar.

Mas a vida é cada momento. É também desencaixotar. É também ter coisas em caixas a serem desfeitas quando for possível.

Só que pra mim, não. Estou sempre anotando minhas pendências, olhando as coisas por fazer, angustiada com o que falta, planejando o dia, a semana, o mês, o ano… ufa! Assim não tem lugar em que a tal “energia de cidade” não me pegue, porque essa energia está em mim!

Me dei conta disso numa terça feira, às 10h da manhã, quando terminávamos o café da manhã. Lamentei que já fosse “tão tarde” e Tiago me lembrou que nosso movimento não é só slow food, masslow life! Pressa pra que? Correr pra que? Pra morte? Pro fim da vida? Pra se aposentar e, então, viver, curtir a família, estar com os bem amados? Ora, estamos fazendo isso agora, no auge da nossa “força produtiva”. Que benção! Que alegria poder terminar o café da manhã com os filhotes, em plena 3ª feira, às 10h da manhã!

A verdade é que estamos programados pra ser eficientes. Pra cumprir tarefas. Pra sermos produtivos. Notei que sequer me permito sentar na tão sonhada rede e descansar.

E não tem ninguém me cobrando, me julgando, me criticando, a não ser eu mesma, meu julgador interno que fica o tempo todo querendo mais, insatisfeito com o que já conseguimos, cego mesmo pras mudanças e conquistas feitas.

 

Mudar é um longo aprendizado. Não basta mudar de vida, de cidade, de ideias, de crenças. A mudança é interna, é um desconstruir-se diariamente. Ter consciência é apenas um dos passos nessa jornada.