Provocado pela entrevista concedida ao podcast do Jornal Nexo, o caracol Edu Cordeiro escreveu este breve artigo sobre como descomplicar a vida desacelerando. Confira:
O ato de simplificar a vida começa com uma profunda reflexão sobre a complexidade das relações sociais. É um movimento interno, especialmente. Parece contraditório; e é mesmo!
É um ledo engano acreditar que nos tempos atuais o movimento de simplificar qualquer coisa seja algo realmente simples.
Com o modelo predominante de convivência que está estabelecido; com as convenções sociais determinadas da forma como estão; e considerando que essas duas condições são baseadas numa cultura egocêntrica, que isola os indivíduos e que muitas vezes coloca as coisas acima das pessoas, essa é uma tarefa muito difícil.
É um exercício de desapego que vai muito além das questões materiais. E não se trata apenas de uma escolha; mas também de várias renúncias que vem junto. A escolha deve se basear no seu propósito de vida, naquilo que é essencial, que não se vive sem, do que não se quer abrir mão, tudo o que é realmente necessário. Quando a gente tem convicção do nosso propósito de vida, fica mais simples dizer não.
Já as renúncias, por outro lado, devem ser pensadas a partir da suficiência. Pensar naquilo que é suficiente para mim é estabelecer limites para muitas dessas convenções sociais. É ter clareza de até onde se quer chegar, sem você se violentar.
Quando temos convicção daquilo que é suficiente pra gente, também fica mais fácil decidir o que eu não preciso. Esse é um caminho; e essas escolhas e renúncias nos dão mais tempo pra dedicar nas coisas que realmente são importantes pra nós. Isso torna a vida mais simples… mais leve e simples.
Relações pessoais
Quando você deixa claro qual o seu propósito, você faz um movimento que gera outros. As pessoas que não se identificam tendem a se afastar, naturalmente. Penso que quando você faz esse movimento interno, ele gera um movimento externo, uma reação.
Minha experiência de vida mostra que em algum momento as pessoas percebem e aceitam esse movimento, ainda que não concordem com ele. No Desacelera SP, a gente defende a ideia da convivência afetiva como caminho para a desaceleração, que em tese se aproxima muito dessa ideia de simplificar a vida.
E quando a gente fala em convivência afetiva, a chave desse afeto está na franqueza e na presença. A primeira é um compromisso com a verdade. E a sua verdade precisa estar bem delineada nas relações, para que elas sejam reconhecidas e respeitadas pelo próximo. Com isso, essas relações ganham em qualidade. A segunda, é um compromisso com a dedicação a essa relação; dedicação tem a ver com tempo.
Então, sugiro que a gente deixe de olhar apenas para o tempo que perdemos e com a energia que gastamos com aquilo que não nos faz sentido. E que ao invés disso a gente passe a se dedicar mais às pessoas que nos são caras e em tudo aquilo que é necessário para mantê-las próximas a nós.
O universo nos retorna com a energia que colocamos no mundo.
Acredito que uma simples mudança de olhar gera um resultado surpreendente.