por Cristiane Pedote, parceira de Pulsara, integrante da Rede DesaceleraSP.
Fala-se muito de diversidade e inclusão, mas pouco praticamos o ato de incluir a nós mesmas(os). De incluir as nossas diversas expressões em contextos nos quais acreditamos que elas serão malvistas. Quer alguns exemplos? Quem nunca deixou de expressar tristeza no ambiente de trabalho por acreditar que seria sinal de fraqueza? Quem nunca engoliu a raiva com medo de ser despedida(o) do emprego? Quem nunca deixou de pular de alegria com receio de ser julgada(o)? Pois é. A diversidade começa dentro da gente. Nossos sentimentos são diversos e mutáveis. É impossível controlar o sentir. O que fazemos é controlar os atos resultantes dos nossos sentimentos e muitas vezes este controle restringe nosso ser. E ao restringirmos a nós mesmas(os), ao nos reprimirmos, acabamos por também reprimir as outras pessoas. Pensamentos do tipo: “como ela ousa vestir essa roupa?”, “como ele ousa andar desse jeito?”, se manifestam na mente conscientemente ou inconscientemente. E assim fica muito difícil conseguir criar ambientes de trabalho diversos e inclusivos.
Ainda que se estabeleçam metas de contratação de minorias pouco representadas, o campo dentro das empresas é hostil, pois somos hostis conosco. Sem perceber. Somos hostis com quem é diferente da gente e, também, com quem é parecido com a gente. E como transformar esse padrão de comportamento? Um verbo do qual eu gosto muito é o verbo acolher. Mais do que do verbo, gosto do ato de acolher. Quando penso em acolhimento, penso no abraço da minha Vovó Hilda, que me envolvia por inteiro. Penso no seu sorriso que celebrava minha chegada na sua casa. Sempre. Podia estar suja, ranheta, feliz, triste, banguela, doente ou danada. Vovó sempre me acolhia e entrava em diálogo comigo. E eu me sentia bem-vinda. Eu me sentia querida e amada.
E quais diálogos internos travamos? São amorosos? São compassivos? O propósito deste artigo é despertar você que está lendo para acolher a si mesma(o) e todas as suas expressões. Estas perguntas eu me faço constantemente. E como este olhar para dentro surgiu? Há cerca de oito anos me tornei investidora social. A primeira instituição na qual investi meu capital financeiro foi a Ashoka, uma organização sem fins lucrativos que tem por missão despertar a potência de transformação em cada pessoa. Fazem isso reconhecendo publicamente e dando visibilidade para empreendedoras(es) sociais no mundo todo. Estas(es) empreendedoras(es) dedicam suas vidas para erradicar problemas sociais como a pobreza e a violência contra mulheres. Pois então, ao me tornar investidora da Ashoka, abracei a oportunidade maravilhosa de interagir presencialmente com várias dessas pessoas e com a equipe da Ashoka Brasil durante um programa imersivo que foi batizado de Develop To Change (Desenvolver para Transformar). Uma das primeiras provocações que o facilitador do programa fez para a gente foi sobre o quão amorosas(os) e acolhedoras(es) éramos com a gente mesma(o). E aí ele nos propôs o desafio de adotar uma prática diária de autocuidado, de declaração de amor conosco.
Eu lembro de nesse dia voltar para o quarto do hotel onde estava rolando a imersão, e de me olhar no espelho. De me olhar nos olhos. E eu me vi. E eu sorri para mim mesma e comecei a chorar muito. Pois acho que eu nunca tinha me visto. Eu me olhava no espelho até então para arrumar o cabelo, encolher a barriga, disfarçar as olheiras com maquiagem, pra criticar a imagem refletida. E neste dia eu me acolhi, do jeito que eu estava. E esta foi a prática de autocuidado que eu adotei. De me enxergar e de me acolher por inteira, celebrando minha existência. Fecho aqui este artigo deixando para você o convite: de que maneira você pode se acolher?
Sobre Cristiane Pedote
Ao longo de mais de 20 anos tem liderado pessoas, desenvolvendo negócios e criando ambientes de trabalho cooperativos, como investidora social (Acreditar, Bemtevi, Engajamundo, PimpMyCarroça), mentora e executiva sênior de bancos de investimento (JP Morgan, Goldman Sachs e Barclays) no Brasil, EUA e Inglaterra. Cristiane é formada em economia pela Universidade de São Paulo, em desenvolvimento organizacional pela Adigo e possui mestrado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Sua dissertação de mestrado – Gestão do Risco Operacional – foi publicada pela BM&F em 2002.