As pessoas estão comemorando o fato de que agora podemos acelerar os áudios do whatsapp e eu só consigo pensar que isso é um sintoma de nossa sociedade, doente de velocidade.
Não me entendam mal.
Não julgo as pessoas que aceleram os áudios. Tenho certeza de que – ao acelerar – elas o fazem, porque precisam.
Mas por que precisam?
A agenda tecnológica (o pacote discursivo Big Tech sobre as tecnologias que analisei neste outro post) faz a gente acreditar que as tecnologias existem para “facilitar a nossa vida” e “economizar tempo”.
No entanto, a suposta economia que fazemos (ao, por exemplo, executar uma tarefa cotidiana em menos tempo do que faríamos sem o apoio dos recursos tecnológicos) não se converte em “desfrute” do tempo livre ou em descanso (como o discurso tecnológico nos leva a crer).
Esta “economia” de tempo está se convertendo em mais tempo para o trabalho e as multitarefas. Ou seja: em geral, é usada para sermos ainda mais produtivos.
Poxa, mas é só um áudio acelerado no whatsapp. É até divertido.
Não faz sentido questionar a funcionalidade. Ou os usos que as pessoas farão desta funcionalidade. Ou os contextos que a aceleração vai fazer sentido. Claro que em muitas situações, esta funcionalidade vai nos “ajudar”. Mas existe uma ambivalência aí. Porque é justamente por fazer sentido em alguns casos, que o ato corre o risco de se tornar hábito e, aos poucos, se converter em “normal” ou “natural”.
A minha proposta é de que olhemos para isso como um sintoma. Um sintoma de que estamos reféns da pressa. E de que não existem saídas individuais.
Só desaceleraremos de fato, como coletivo, quando repensarmos a nossa noção de tempo atrelada ao progresso e ao avanço da forma como foram concebidos em articulação com a agenda desenvolvimentista tecnológica.