A arte em ambiente

Por Carolina Ribeiro*

 

O Museu Nacional era o mais importante na história brasileira. Foi Casa da família real e transformado em um lar de conhecimento inestimável. Não foram só os bens materiais destruídos no incêndio que ocorreu no começo de setembro deste ano, foi toda uma memória onde o país se ergueu. Uma triste tragédia de dimensões maiores do que poderíamos imaginar. Milhões de memórias afetivas foram destruídas com uma rapidez inimaginável. Empregos e estudos que eram feitos lá viraram fumaça, enquanto os bens materiais viraram pó.

 

Um dos grandes valores que não foram mencionados pela grande mídia até agora é a importância dessas memórias que o museu mantinha para a preservação ambiental. Não só desmatam a floresta, mas também ela é apagada da mente nacional uma vez que a falta de recordar o verde faz as pessoas esquecerem seu valor. As pinturas do período imperial eram essenciais para as novas gerações visualizarem como o país já foi, e que existem outras formas de conviver com a natureza. A pintura era necessária para complementar os documentos escritos e consolidá-los na memória nacional. Era a forma mais afetiva de conexão com o passado. E a arte se foi junto à recordação que ela fazia.

 

As espécies empalhadas e exemplares únicos que contavam nossa história e mostravam diferenças com o passado. Centenas de insetos que foram coletados na época do império. Obras de arte que representavam a vegetação natural. Monografias, informações coletadas nos últimos séculos, lembranças perdidas. A falta da representação do passado vai mudar o futuro. O Museu sobreviveu ao tempo, e se foi pelo descaso humano pelo lembrar.

Um Brasil não tão distante vivia no Museu Nacional, aqueles artigos e objetos que nos faziam lembrar desse passado natural. Uma época onde era normal ver os animais diariamente e  onde abrir a janela se via vegetação. A maioria das pessoas moravam no meio rural, não precisavam da lembrança, agora nós o vemos apenas por fotos antigas e pinturas.

 

O conhecimento tem valor inestimável. Objetos que tem como morada museus e institutos fazem diferença na história mundial, na maneira que a ciência constrói a vida na terra, e as explicações científicas. Toda essa informação faz diferença para a construção do imaginário social e na história nacional, de quem nós fomos e quem queremos ser. 

 

O Museu Nacional  perdeu uma quantidade de informações enorme pelas proporções do fogo, mas esse acontecimento não é isolado no Brasil. Esse foi só um dos casos que perdemos na nossa história recente. Nos últimos cinco anos fontes de informação, como o Museus da língua portuguesa e o Instituto Butantã, e essas nunca saberemos como o conhecimento perdido poderia ter  mudado a história da humanidade. Todos as formas de memória possuem essa importância vital de lembrar e aprender com o que já foi e essa função se perde como fumaça.  A esperança é de que essas tragédias sirvam de exemplo para que outras sejam evitadas.

 

* Carolina Ribeiro escreve como colaboradora do Desacelera SP. Os textos são de sua autoria e não refletem necessariamente o pensamento da nossa iniciativa.