Vamos fazer um exercício?
Pergunte às pessoas mais perto de você se elas avaliam que o dia-a-dia delas é corrido, apressado ou se é desacelerado.
É muito provável que boa parte delas responda que tem pressa. E é mais provável ainda que esta parcela que disse que corre reclame da correria.
Agora, te convido a refletir. Se todo mundo tem pressa, pelo menos alguns pontos me ocorrem:
1) Precisamos nos cuidar e cuidar das nossas escolhas de tempo, como indivíduos e como sociedade;
2) A pressa – ao afligir todo mundo – configura a velocidade como violência sistêmica, que atravessa diversos campos da vida e que se impõe enquanto lógica quase inescapável;
3) Para escapar desta lógica, existem possibilidades ancoradas em escolhas individuais, mas não podemos pressionar os indivíduos com mais esta “obrigação” (além de tudo, você precisa desacelerar?!);
4) As escolhas individuais são talvez uma parte da mudança que queremos, mas para que ela se revele sistêmica, precisamos de mais. Precisamos coletivamente pensar no tempo, na velocidade, nas violências temporais e pensar em como a vida nas cidades pode ser melhor e mais feliz; pensar em como precisamos decrescer e desconsumir.
5) Qual a nossa parcela de contribuição para que esta transformação ocorra sistemicamente e nos nossos círculos de convivência? Como contribuímos para reproduzir e perpetuar os contratos de tempo que nos impõem a pressa da qual reclamamos sistematicamente?
Alguns passos que a meu ver se desenham no caminho para cambiar esta lógica dizem respeito a (1) mudarmos internamente, (2) mudarmos nos nossos círculos de convivência e (3) mudarmos em nossas comunidades até que (4) consigamos construir efeitos políticos sistêmicos na construção de um mundo mais devagar.
Enquanto isso, não podemos nos culpabilizar individualmente por não termos tempo.
Temos tempo. Apenas talvez não consigamos priorizar as pausas e o que é importante para nós.
Temos tempo. Apenas continuamos reproduzindo um discurso que não favorece a consciência temporal.
Temos tempo. Apenas seguimos, como humanidade, reforçando a velocidade e a rapidez como qualidades desejáveis, enquanto adoecemos e padecemos cada vez mais deste mal.
Ainda temos tempo. Precisamos agir e refletir individual e coletivamente. 🐌