Se tiver dinheiro, compre tempo e não coisas, sugere estudo

Cozinhar em casa, pegar um ônibus ou entregar um documento pessoalmente são estratégias para economizar dinheiro. Acontece que tomam tempo. E isso pode levar a uma vida menos satisfatória. É a conclusão de um novo estudo da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que diz valer a pena investir dinheiro no combate à sensação de que “não dá tempo de nada”. Reportagem do Nexo Jornal

É uma forma de “proteger as pessoas dos efeitos prejudiciais da pressão do tempo na felicidade”. Pessoas de quatro países, de diferentes classes sociais, foram entrevistadas na pesquisa. Aqueles que gastavam dinheiro para “comprar” tempo para si, terceirizando tarefas que requerem pouca qualificação, “reportaram uma maior satisfação de vida no geral”, disse Ashley Whillans, professor assistente na faculdade de administração de Harvard, ao jornal americano The New York Times.

A mesma pesquisa mostrou que usar o dinheiro para comprar bens materiais, como estratégia para melhorar o humor, não teve a mesma eficácia.

Como foi feita a pesquisa

No estudo de Harvard, foram entrevistadas cerca de 4.500 pessoas nos Estados Unidos, Dinamarca, Canadá e Holanda com perguntas sobre bem-estar e gastos em formas de economizar tempo, como pedir comida, chamar um táxi, contratar ajuda para a casa ou pagar alguém para um serviço na rua.

A “fome de tempo” é um problema que surge à medida em que se melhora de padrão de vida Em semanas diferentes, os pesquisados receberam US$ 40 para gastar em uma maneira de economizar tempo e, depois, em um bem material. A satisfação maior foi registrada no primeiro exercício. As evidências do estudo apontam que “se há uma tarefa que deixa você com pavor só de pensar, vale considerar se você pode comprar uma solução para ela”, disse Elizabeth Dunn, professora de psicologia da universidade da Columbia Britânica e uma das autoras do estudo, ao NYT.

Mais dinheiro, menos tempo

De acordo com o estudo, a “fome de tempo” é um problema que surge à medida em que se melhora de padrão de vida. Um estudo relacionado reportou aumento na sensação de “estresse do tempo” em habitantes com maior renda na Alemanha, Austrália, Canadá, Coreia do Sul e EUA, especialmente entre mulheres que trabalham. Já uma pesquisa do GroupOn feita em 2016 nos EUA mostrou que 46% dos entrevistados dizem nunca ter tempo para relaxar enquanto 38% disseram trabalhar horas demais.

No Brasil, uma pesquisa do Ibope de 2013 revelou que 35% das pessoas não estão felizes com a forma como gastam seu tempo. A pesquisa de Harvard, realizada em países ricos, abordou uma realidade diferente da brasileira. Isso porque nesses países praticamente não existe a figura do empregado doméstico, o que faz com que ter ajuda para a faxina em casa ou no cuidado com as crianças ser algo pouco comum, por exemplo. Mesmo entre os muito ricos esse é um hábito raro: os pesquisadores do estudo registraram que cerca de metade dos 800 milionários holandeses entrevistados não gastava dinheiro terceirizando tarefas ou serviços.

Segundo os pesquisadores, este é um indicativo de uma mentalidade que considera “desperdício” gastar dinheiro para conseguir mais tempo para si mesmo. Nos Estados Unidos, ela estaria provavelmente ligada a uma ética de trabalho protestante que valoriza o “estar ocupado” e culpa quem paga os outros para fazer algo que poderia ser feito pela própria pessoa.

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