Por Leonardo Uller*
O começo de semana é naturalmente mais puxado para mim. As terças-feiras são dias particularmente difíceis, pois costumo começar o dia bastante cansado, afinal, na segunda acumulo muitas atividades e dificilmente consigo dormir antes da meia noite – tudo isso para estar de pé às 6h no dia seguinte e sem o gás de ter vindo de um descanso no fim de semana.
Só que esta terça (13) seria especialmente puxada, eu já sabia disso. Além do fluxo normal de trabalho, ainda teria que trabalhar em um novo projeto bastante desafiador e sabia que tinha deixado mais afazeres em casa, tudo isso enquanto me recupero de uma amidalite, o que faz com que a minha disposição não esteja lá em cima.
Foi ao chegar no trabalho que lembrei de um folheto que meu chefe havia me entregue na semana passada, falando sobre o Cochilo, espaço que permite que as pessoas durmam em curtos períodos de tempo para quebrar um pouco a rotina tão acelerada do cotidiano – parecia justamente o que eu precisava em meu dia.
Ao entrar na cabine, a primeira sensação que veio foi de extrema ansiedade. “Como assim, em um dia tão puxado, eu estou tirando meia hora para simplesmente dormir?”. O pensamento foi acompanhado por outro ainda mais desesperador: “e se passarem os trinta minutos e eu não conseguir dormir, o que eu faço?”.
Na verdade, essa foi uma resistência natural da minha mente, que, às 12h40, estava literalmente a mil por hora. É difícil “virar a chave” e fazer o corpo se adequar a um ritmo mais tranquilo no meio do frenesi cotidiano e foi um verdadeiro esforço fazer isso – ainda mais para uma pessoa elétrica como eu.
Decidi tentar esquecer de qualquer preocupação ou problema e, para isso, usei a técnica que mais recorro nestes momentos: comecei a pensar em algumas das experiências mais belas que já vivenciei em minha vida. Me esforcei para lembrar do som da cachoeira no sítio da minha avó em Santa Catarina, das vielas cheias de grafites em Valparaíso e do cheiro do perfume preferido do meu noivo. O resultado foi quase imediato, após duas leves interrupções, entrei em um sono profundo rapidamente e o resto da minha experiência no Cochilo passou em um piscar de olhos.
Acordei com a cama vibrando e confesso que enquanto calçava os sapatos, pensei em tudo, menos nos inúmeros problemas e desafios que ainda encararia no resto do dia. Voltei com as pernas leves, em parte por conta da posição da cama na cabine, que faz com que você mantenha seus membros inferiores elevados. E meus afazeres? Ah, não só cumpri todos, como ainda tive tempo para escrever esse depoimento para o Desacelera SP.
*Leonardo Uller é jornalista econômico, gay, ativista LGBT, viciado em café e apaixonado por divas pop.
Clique no link https://youtu.be/y9sAqkZ-u88 e veja o vídeo da nossa visita ao Cochilo!
Foto de Eric Leleu