O Guia Desacelera SP é um mapa de lugares onde você pode fazer uma pausa; ou projetos e iniciativas que promovem a vida desacelerada e a convivência afetiva na cidade.
Hoje, temos mapeados lugares e projetos nas áreas de gastronomia, crianças, arte e cultura, comércio e serviços, natureza e meio ambiente, parques e praças, mães e pais (maternidade e paternidade), saúde e bem estar, além de organizações e institutos.
Nas nossas andanças por aí, buscando estes espaços, lugares e iniciativas que podem ser inseridos no mapa, somos frequentemente abordados com a questão: mas o que é desacelerar? O que vocês buscam nestes lugares ou iniciativas que as caracterizam como desaceleradas?
Antes de entrar em qualquer “definição”, vale dizer que muito do que nos mobiliza em um lugar ou em um projeto está relacionado com algo subjetivo, que diz respeito à atmosfera e às pessoas ali presentes e suas histórias. Seriam elementos que representam a alma do Desacelera SP, que é a convivência afetiva na cidade.
Vale também o registro de que o Desacelera SP nasceu de uma experiência pessoal. Começamos a buscar isso para nossas vidas, em escolhas cotidianas e ao estudar os movimentos de desaceleração e decrescimento, que são tendências mundiais sob o conceito de slow life.
Não por coincidência, mas por este movimento de busca, começamos a frequentar lugares, conhecer iniciativas e pessoas conectadas com esse propósito. E percebemos que estes lugares tinham conexões entre eles.
Desde que iniciamos – de forma mais sistemática e organizada – a buscar e articular esta rede, temos trabalhado para sintetizar este conceito em alguns elementos mais “concretos”. Vale lembrar que: 1) o afeto e a relação com o tempo podem estar traduzidos naquele projeto ou local de múltiplas formas ainda não mensuradas por nós; e 2) o sentido de desacelerar é também dado pela experiência; então, esta lista de aspectos não está pronta ou acabada, mas em construção a partir das experiências que estamos vivendo e desenvolvendo no projeto.
Experiência e referência
De forma bem sintética, é possível dizer que organizamos e classificamos as experiências, lugares, projetos e iniciativas que estamos cartografando como ‘desacelerados’ a partir de dois conjuntos de referências: um da experiência, do sensorial, da nossa história de vida e das vivências; e outro, das referências de estudo sobre o slow movement.
Duas “características” que observamos para cartografar algum projeto, lugar ou iniciativa como “desacelerado” dizem respeito a esta dimensão mais subjetiva, da experiência: a atmosfera do local; e as pessoas envolvidas e suas histórias de vida.
A atmosfera do lugar diz respeito às condições de contemplação e de desfrute do tempo ali presentes. Também diz respeito ao uso do espaço de modo a aguçar todos os cinco sentidos. Em geral, buscamos espaços que valorizam a natureza e as atividades ao ar livre; lugares com uma decoração convidativa ou ocupados por um mobiliário aconchegante. Resumindo, a atmosfera do lugar precisa oferecer conforto e aquela sensação de que estamos em casa ou de que somos convidados muito queridos.
O segundo elemento relacionado a nossa vivência mais sensorial e subjetiva são as pessoas envolvidas. Em geral, as pessoas são as responsáveis por nos dispensar uma atenção diferenciada, mais humana e pessoal, menos apressada e mais afetiva. O que nos fascina é que quando este encontro se dá, esta pessoa, em geral, tem uma linda história para nos contar. Em uma conversa informal, estabelece-se, em geral, uma relação de confiança quase imediata. E muita troca surge daí. Trocas que originam, geralmente, as nossas resenhas afetivas (modo como chamamos os textos do nosso Guia, especialmente confeccionados a partir de um olhar de registro que busca relatar o que não se vê normalmente quando observamos um lugar, explorando como aquele lugar desperta os sentidos).
As demais características que nos levam a estes lugares (ou que observamos neles) estão relacionadas ao movimento pela desaceleração que vem sendo construído mundialmente. Nesse sentido, desacelerar é conviver, contemplar, refletir, deixar fluir, cuidar, brincar, desfrutar. É o resgate do natural, do orgânico, do artesanal. É vida simples, consumo consciente, economia criativa, solidariedade. E muitas coisas mais…
Com base no conceito de slow life, buscamos nas iniciativas que mapeamos:
- Relação sustentável com os recursos naturais;
- Ecologia dos recursos utilizados;
- Atenção para a cadeia produtiva dos itens comercializados;
- Alimentos naturais, saudáveis e orgânicos;
- Produtos artesanais (com reconhecimento e voz para os artesãos);
- Vida natural e simples;
- Cuidado natural da saúde (sem medicalização);
- Tempo devagar, sem pressa para o consumo;
- Consumo consciente;
- Economia colaborativa e criativa;
- Preocupação com o nascer natural, acolhimento dos bebês, crianças e da infância como um todo;
- Brinquedos e brincadeiras;
- Espaços de reflexão;
- Preocupação com o cuidado;
- Valorização do diálogo e da empatia (afeto);
- Possibilidade de contemplação;
- Ocupação de espaços públicos;
- Preocupação com o bem-estar;
- Atividades físicas para o bem viver;
- Atenção à espiritualidade;
- Oportunidade de autoconhecimento;
- Atividades ao ar livre;
- Relação harmoniosa com a natureza;
- Valorização do ser humano e suas culturas;
- Comida caseira, de raiz, saudável ou orgânica;
- Preocupação com a cidade e seus espaços; urbanidades e mobilidade;
- Atendimento atencioso;
- Atividades culturais e artísticas;
- Atividades para pais e filhos;
É claro que para ser desacelerado, um projeto, iniciativa, espaço público ou estabelecimento comercial não precisa necessariamente se encaixar em todas estas categorias; mas é importante que o conceito do lugar e, especialmente, a trajetória e as escolhas das pessoas envolvidas estejam conectados de alguma forma com este movimento.
Este é um movimento pelo afeto, pela humanização, pelas relações, pela consciência, pela sustentabilidade, pela contemplação, pela reflexão e por tantas outras forças que nos fazem pausar e questionar a velocidade dos tempos atuais e as consequencias desta velocidade para as relações humanas. Mais do isso, nos fazem buscar soluções e alternativas para transformarmos esta realidade e vivermos de forma mais harmônica com as nossas escolhas e possibilidades temporais.
Com o mapa, buscamos apoiar os paulistanos em uma das possíveis soluções para desacelerar: permitir-se uma pausa no cotidiano tão corrido. Com a nossa pesquisa e as demais frentes de ação do projeto, apoiamos iniciativas de reflexão sobre o uso do tempo; organização do tempo; e até mudanças mais profundas para pessoas e organizações que buscam uma alternativa à velocidade.