Se ao pensar em banca de revista vier à sua mente um lugar que venda zona azul, cigarros, sorvetes, brinquedos, refrigerantes, chicletes, biscoitos, salgadinhos e, até, jornais e revistas, está na hora de você rever seus conceitos e conhecer a Banca Tatuí. Instalada na calçada como manda a tradição, ela revisita o conceito original de mobiliário urbano abandonado pelas demais ao abrir seu diminuto espaço para a cidade, instigando visitantes e transeuntes à leitura e à convivência. “As pessoas podem vir aqui e passar a tarde inteira conversando, folheando, lendo e conhecendo as histórias por trás de cada livro”, conta a jornalista Cecília Arbolave, que, ao lado dos sócios e também jornalistas, João Varella e Thiago Blumenthal, está à frente da iniciativa.
Se fosse possível ligar e desligar o botão das conspirações do universo em nossas vidas, poderia se dizer que a Banca Tatuí nasceu como vitrine para a Lote 42, a editora de livros independentes que o trio mantém online. Mas na inexistência desse dispositivo, é possível percebê-la remontando tanto à infância de João Varella – que na pequena Guaíba, RS, se realizava lendo gibis na única banca da cidade -, quanto à paixão sem explicação por livros autorais de Cecília Arbolave e Thiago Blumenthal.
Fotos: Solano Diniz e George Leoni
Com velas infladas pelos ventos da perseverança, dois anos após a fundação da editora online, uma placa de VENDE-SE ESTA BANCA (quase abandonada) na rua Barão de Tatuí, no bairro central de Santa Cecília, surgiu como a vitrine física ideal para os negócios virtuais. “E o mais engraçado é que na noite anterior, havíamos falado de como as bancas de revista tinham perdido a sua relevância”, lembra Cecília. E para homenagear a rua que a recebe e congrega o lançamento de outras editoras, o empreendimento foi batizado de Banca Tatuí.
Ladrões, arquitetos e engenheiros…
Quis o destino (sempre ele), que o incipiente negócio fosse alvo de um furto já na sua primeira semana. “Quebraram o teto e entraram por cima, roubaram R$ 3,50, pisaram nos livros… foi um susto. A gente já queria deixar a banca mais bonita, mas depois disso, a nossa prioridade passou a ser a segurança” revela. Tiro pela culatra do destino? Sim.
O episódio comoveu amigos arquitetos, engenheiros e designers que se reuniram para contribuir de todas as formas para restaurar a Banca. Os arquitetos Mário Figueiroa e Letícia Tamisari desenharam todo o espaço e o conceito da banca. “Foram eles que conceberam essa ideia de espaço de convivência e de permanência, o sistema de armazenamento e de exposição dos livros em módulos de madeira, e o jardim no teto”, explica Cecília. [Como assim, um jardim no teto? Sim. E isso não é tudo que cabe em um teto de uma banca!]. Já a identidade visual, com logotipo, testeira e as letras que envolvem a Banca, ficou a cargo do Casa Rex (http://www.casarex.com/).
Desse layout rabiscado pelo afeto, a Banca Tatuí redescobriu um novo ritmo para a leitura, para o toque e o cheiro de folhear um livro e de consumir literatura. Sugerindo a criação de uma mini sala de estar, que se reconfigura com a dança dos módulos de madeira, um poético balanço pode ser instalado numa fração de segundos na porta da banca, permitindo ao usuário voltar-se para uma roda de conversa interna ou abrir-se para a rua, a ler orelhas, capítulos e prefácios de livros.
Shows no teto
Na reforma empreendida por calorosas mãos, um item – uma possibilidade jamais imaginada para uma banca – surgiu do que não está à mostra: da estrutura metálica projetada pelo engenheiro, que é pai do arquiteto e homônimo Mario Figueiroa. “Ele, que tem uns 80 anos, ficou aqui calculando, soldando e projetando os pilares e vigas embutidas. E, depois que terminou, disse: ‘pronto, agora a banca de vocês suporta uma tonelada e meia’”, revela Cecília. “E aí, o João, que é a pessoa com as idéias malucas da editora, perguntou: ‘É possível colocar uma banda em cima do teto?’ Ao que ele respondeu: ‘Bem, eu não havia pensado nisso, mas dá sim’”, relata.
Nasciam assim as festas de lançamentos das publicações da Banca Tatuí com shows no teto. “Bastou a gente falar para meia dúzia de amigos sobre essa possibilidade de colocar uma banda no teto, que os primeiros voluntários surgiram para ocupar o novo espaço”, diz. “Todo livro é uma festa, e sempre gostamos de lançamentos animados. Quando nasce um livro, temos que celebrar mesmo… afinal, hoje em dia, são quase partos”, conclui. Com intervalos aproximados de um mês e meio, o palco da Banca Tatuí tem recebido vários artistas independentes, da cena contemporânea. “Artistas que dialogam bem com esse universo de publicações”, endossa.
Renovando o mercado, reinventando uma rua e agregando um outro ritmo para estar na cidade, a Banca Tatuí, com sua filosofia de “Poucos e Bons Livros” ou “Livro de Artista”, caminha para seu segundo ano de vida. Neste tempo, com uma curadoria exímia para descobrir verdadeiras obras de arte no mercado editorial brasileiro, conta com um acervo de mais de 700 títulos, produzidos por mais de 140 editores. Títulos em sua maioria com tiragens limitadas, mas concebidos com carinho pelos amantes das artes gráficas, do livro impresso, do cheiro de tinta e do toque do papel.
“Estamos publicando livros que gostaríamos que existissem no mundo. São livros dos quais seríamos leitores se fossem publicados por outras editoras”, diz Cecília, revelando o conceito sui generis das obras literárias expostas na Banca Tatuí.
SERVIÇO
Banca Tatuí
R. Barão de Tatuí, 275 – Vila Buarque, São Paulo – SP, 01226-030
Tel: (11) 97617-1538
Site: http://www.bancatatui.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/bancatatui/