A escrita afetiva é um jeito de se colocar no mundo para narrar algo, alguém, alguma situação, algum ambiente, alguma organização, algum organismo. É um jeito de escrever entrando em contato com o que você narra e com você enquanto narra. Nesse sentido, não se trata de um método ou uma fórmula ou um “passo a passo” a ser seguido para chegar em um texto afetivo, afetado, afetável e afetador. Não pode ser replicado a partir de uma matriz absoluta.
A escrita afetiva é um jeito de olhar-fazer-contar-refletir. Um método vivo, aberto, plural. Que por isso, pode ser mais apropriado dizer que é um desmétodo.
É um exercício do sentido, do calor, do pulso, da vida que existe no objeto a ser (d)escrito, no ato de escrever e no produto da escrita. É pensar o que no afeta e conseguir transpor estes afetos para o processo de escrever um texto, seja ele de formato for.
Não é sobre escrever com afeto ou sobre fazer um texto com floreios poéticos. Pode ser também, se isso te afetar, se fizer sentido.
A escrita afetiva é um convite a viver e nomear o vivido; a sentir e nomear o sentido; a afetar(-se) e nomear o afetado e afetivo. A luz deste (des)método é justamente a consciência da importância de mobilizar afetos, sentidos e humanidades para se relacionar com o objeto da escrita.
Entendemos a escrita afetiva como um processo que é marcado essencialmente por duas características: é um processo humano (que está conectado com as pessoas envolvidas nos diversos processos, espaços e lugares vinculados à narrativa) e sensorial (que busca conectar-se aos sentidos presentes nas diversas fases do processo de construção da narrativa).
Na semana passada, dia 2 de março, o Desacelera SP participou da Oficina “A escrita como prática de compreensão”, realizada na Noetá. Lá, Michelle Prazeres conduziu uma reflexão orientada para os participantes, após um depoimento sobre como o projeto chegou na concepção da escrita afetiva como processo de narração de histórias significativas e conscientes.
Algumas perguntas sobre as quais o grupo refletiu foram:
Neste processo de escrita que você está experimentando, quais são as pessoas envolvidas? Como você caracterizaria a sua relação com elas?
Que emoções você consegue mapear e que estão presentes na relação com o objeto de escrita?
Que sons estão envolvidos neste processo? Que cores? Que cheiros? Que sabores? Que dores? Que sensações? Que intuições? Que outros sentidos?
Que espaços fazem parte desta história?
Como você se narraria como sujeito?
Confira abaixo algumas imagens da roda.